O termo aceitação usa-se na prática da mindfulness, como a aceitação da realidade presente, daquilo que está a sentir, não tendo que ser necessariamente algo de mau (no caso de sentimentos, pensamentos ou sensações físicas desagradáveis). Aquilo que se sente, é informação que nos chega à consciência através de uma mecanismo de feedback do nosso organismo. Ao perceber isto, permite que você não faça uma fusão da sua experiência interna consigo mesmo. Você não é aquilo que sente, tal como não é aquilo que come, você não é os seus pensamentos, tal como não é aquilo que ouve. Se percebermos esta independência relativamente às nossas experiências internas, ficamos com opção de escolha.
Podemos estar a sentir tristeza e não sermos tristes, podemos estar a ter pensamentos deprimidos e não sermos depressivos, podemos estar a sentir raiva e não sermos pessoas hostis, podemos estar insatisfeitos e não sermos infelizes. Sentimos, mas não somos o que sentimos, e isto é muito capacitador. Ficamos numa posição de conseguir olhar para o nosso problema ou para a nossa dor de uma forma desapegada. Desapego é o oposto de fusão, se nos fundirmos com uma experiência interna considerada negativa ficamos num estado de incapacidade. Se nos desapegarmos da nossa experiência interna negativa, ficamos num estado de capacidade. Diminuímos desta forma a possibilidade de cairmos num situação mental angustiante, e aumentamos as possibilidades de arranjarmos recursos para o nosso equilíbrio emocional.
Na minha prática clínica, utilizo aquilo que se considera a terceira geração de terapias psicológicas que é a Terapia da Aceitação e Compromisso (ACT). Esta é uma abordagem, que explicitamente enfatiza a propensão que o cliente tem para evitar as experiências internas. O que se pretende é alterar a percepção de evitamento, e promover a aceitação daquilo que o cliente sente. No que diz respeito ao compromisso, tem a ver com a construção de um conjunto de acções que o cliente promove no sentido de se orientar por aquilo que valoriza e quer para ele. Seguindo a sua vida sem entraves provocados pelo evitamento daquilo que tem medo ou que não quer sentir. Esta abordagem permite que a pessoa escolha o caminho que quer seguir, optando por trabalhar e comprometer-se com um conjunto de acções que o conduzam ao sentimento desejado, na maioria das vezes traduzido por: “Quero ser feliz“.
Ao incluir-se a aceitação da experiência interna na vida da pessoa, isto permite que a pessoa consiga trabalhar na sua musculatura emocional, permite que a pessoa consiga ser mais resistente às suas experiências internas de mal-estar, entendendo-as como manifestações da realidade, colocando-se assim numa situação mais capacitada para accionar os seus recursos, construindo uma solução para os seus problemas. No fundo, a aceitação e o compromisso funcionam como um antídoto à hipersensibilidade emocional, à hipersensibilidade dos sentimentos negativos.Você não é os seus sentimentos, não é a sua tristeza, não é o seu mal-estar. Se você perceber que não é aquilo que sente, que você é aquele que sente, se tiver esta consciência, fica numa posição vantajosa. Consegue por comparação, isto é, consegue diferenciar-se entre aquilo que sente e aquilo que é ou que pretende vir a sentir, e assim fazer coisas para alcançar o que deseja: Por exemplo, ser feliz.
Se nos tornarmos mais cientes de como funciona a nossa mente, e porque razão sentimos as coisas que sentimos, ficamos mais aptos a podermos fazer uma opção de escolha. Ficamos mais aptos para escolhermos a possibilidade de sermos felizes.